O mito da divisão entre o lado esquerdo e direito do cérebro

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Você acredita que a humanidade é dividida em dois grandes grupos: os que usam mais o lado esquerdo do cérebro e os que usam mais o direito? Se sim, você não está sozinho.

Durante anos, a indústria dos livros, testes e vídeos difundiu este conceito de que as pessoas mais lógicas e analíticas utilizam mais o lado esquerdo do cérebro, enquanto aquelas que são mais intuitivas e criativas utilizam mais o lado direito. Hoje até parece ser uma lei natural. Mas não é.

Os cientistas já sabem há muito tempo que a popular estória dos hemisférios direito e esquerdo do cérebro não se sustenta. Em primeiro lugar, a caracterização generalizada de que um lado é lógico e o outro intuitivo, ou que um é analítico e o outro criativo, não retrata bem a realidade. Os dois hemisférios até possuem algumas diferenças de funcionamento, mas são muito mais sutis do que imaginamos. Por exemplo, quando vemos uma imagem, o lado esquerdo processa pequenos detalhes do que vemos, enquanto o direito processa o formato geral.

Em segundo lugar, os hemisférios do cérebro não trabalham isoladamente, mas juntos num único sistema. Nossa cabeça não é um campo de batalha em que os lados competem para ver quem é o mais forte. E, finalmente, as pessoas não utilizam preferencialmente um lado ou o outro.

As origens dessa estória de lado esquerdo/direito residem numa série de operações nos anos 60 e 70 por uma equipe de médicos americanos. Procurando tratamento para epilepsia, 16 pacientes concordaram com que os médicos retirassem uma parte do cérebro localizada entre os hemisférios do cérebro. Os pacientes encontraram algum alívio após a operação e, quando deixaram o hospital, permitiram com que os médicos estudassem o seu funcionamento cognitivo.

As pesquisas médicas nem sempre chegam a fazer parte da cultura popular, mas essa sim, e ofereceu uma infeliz oportunidade para a má interpretação do que era, na essência, uma experiência com dados limitados. Nos anos 70, algumas revistas muito populares publicaram artigos afirmando, por exemplo, que “Duas pessoas muito diferentes habitam nossas cabeças… Uma é verbal, analítica, dominante. A outra é artística…”. Daí o mito se espalhou.

Mitos sempre foram uma maneira de se tentar explicar uma experiência e, nessa busca por sentido, pessoas acabam criando generalizações. Apesar de parecer uma estratégia razoável, a explicação utilizando a teoria do lado direito/esquerdo acabou introduzindo alguns conceitos distorcidos.

Estudos sobre a lateralização do cérebro, que analisam as diferenças entre os hemisférios, não sustentam a teoria do lado direito/esquerdo, uma vez que ambos os hemisférios contribuem para os processos de lógica e criatividade. Apesar disso, atualmente a neurociência já sabe que o cérebro possui uma especialização por região, fazendo com que certas regiões do cérebro se especializem em processar algumas funções, mas essas regiões não são tão amplas quanto os hemisférios.

Com o avanço das pesquisas, os cientistas vão fazendo novas descobertassobre o cérebro, algumas até inusitadas, e melhorando nosso conhecimento sobre esse que é o principal órgão do nosso corpo. Resta-nos acompanhar essas descobertas e saber aplicá-las para cuidarmos cada vez melhor do nosso cérebro.

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